terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Pensando e ensinando


-Fiquei pensando hoje.
E pensei muito mesmo.
Um turbilhão de coisas.
Uma tempestade de pessoas.
Uma imensidão de sentimentos.
É. Daqueles mesmos.
- Quais?
- Dos que não tem fim, dos que não conhecem o raiar do sol, dos que não sabem que a noite termina e, aliás, nunca nem perceberam a existência dessas palavras. Conhecem só outras, outras bem diferentes.
-Sei, sei.
- Você as conhece?
- Quem mesmo?
- Essa profundeza de coisa... essa estranheza de coisa, essa enorme pobreza... que não tem fim.
- Hum..acho que já ouvi falar sim.
- Quem te disse?
(pausa e silêncio)
- Hein? Quem te disse delas?
- Ah.. num sei. Acho que você mesmo. Num foi você, não?
- Unff.... eu???
- É.
-Mas é claro que fui eu. Eu estou falando agora!
- Se sabe pra que pergunta?
- Quero saber se entende o meu desabafar.
- Ahn.... mas isso é um desabafar? Ninguém me avisou.
- Tá vendo como você é. Você não entende de coisas sem fim. Você não entende porque nunca as viu, nunca as sentiu, nunca as presenciou. E sabe? Pra mim elas são tão reais, mas tão reais, que as alcanço, que as concretizo, que as vejo.
- Vê?? Mas não eram sentimentos agora a pouco?
- Você não percebe mesmo. (com ar de tristeza)
- É? Você acha que não percebo?
- Acho que não.
- Queria perceber...(triste) queria saber. Me ensina?
- Só estou falando do que sinto. E pra isso não tem regra não. Abra a boca e tente com seu mais aguçado sentido descrever o que tem ai dentro. E se ninguém entender.... no fim você tirará sua conclusão.
- Então se eu falar eu vou conseguir entender de sentimento e de coração?
- Não disse isso.
- Não?
- Não. No fim de tudo, terás vivido o que sentes com a mais pura sinceridade, com a mais apurada vontade de enxergar melhor, de ter vida e de trazê-la para o mais perto de ti, para dentro. Não se preocupe em como exalar tuas palavras... pois se assim fizeres, sairá sim a mais bela canção. E os poetas não são aqueles que entendem de coração e de sentimento. Poetas são aqueles que assumem não entender-se, são os sinceros, são os amantes, são os que buscam a vida e a traz para as palavras. Eles vivem no quadrado de si, mas dedilham doces sons que se vão com o vento e transmitem, expressam seus quadrados mais intensos em dias mais bonitos ou mais tristes. Esses são os poetas.

6 comentários:

Filipe Garcia disse...

"Tá vendo como você é. Você não entende de coisas sem fim. Você não entende porque nunca as viu, nunca as sentiu, nunca as presenciou. E sabe? Pra mim elas são tão reais, mas tão reais, que as alcanço, que as concretizo, que as vejo."

Que isso! Me sinto tantas vezes assim... impossível vc não ter lido minha alma.
Quanto á definição de poeta... concordo e dou aplausos. Linda sem igual.

Fernando Locke disse...

aff! quem nunca tentou travar um dialogo com alguém sonolento ou que não está nem aí! aí assemelha-se, mas este tem um diferencial, quer aprender! muito bom, e creio q me deu uma idéia pra um novo conto! obrigado! abraço!

lucas rolim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lucas rolim disse...

- E quem disse que não és a experiente de si mesma?
- Mas eu não consigo me entender, as vezes me sinto muito confusa (diz Babi franzindo a testa e esboçando um sorriso).
- Pra mim, o que você acabou de dizer , por mais que não tenha se entendido expressa o quanto você conhece a si mesma. És poeta minha amiga, pois sabe, simplesmente dizer o que sente... e isso me faz chora... me faz rir...

Renato Ziggy disse...

" Só estou falando do que sinto. E pra isso não tem regra não. Abra a boca e tente com seu mais aguçado sentido descrever o que tem ai dentro. E se ninguém entender.... no fim você tirará sua conclusão."

Você foi muito feliz ao fazer essa reflexão de forma tão verdadeira e sincera! A poesia reside exatamente aí, nessa capacidade de falarmos de nós, da vida, das coisas, da forma que nós vemos tudo isso com um olhar diferente, vivo, que suga a essência das coisas e, de alguma forma, recria, tempera, inova. E pra isso, sem dúvidas, é preciso entrega, verdade, coração e mente abertos...

Adorei esse teu texto e até agora foi o melhor seu que li. Bjos, Babi!

Anônimo disse...

As coisas-sem-fim ecoam no peito de quem as sente. E, por vezes, nem adianta tentar traduzir em palavras essa sensação. Ela é tão nossa, que é difícil pari-la, compartilhá-la, até vivê-la.
As coisas-sem-fim são melhor entendidas quando se conversa com o olhar ou com o coração. Ou quando os braços se enlaçam e se envolvem, num abraço apertado e sincero, coração com coração, no mesmo ritmo e compasso.
Poeta não é só quem transfere pro papel essas emoções... Mais poeta ainda é quem sabe vivê-las com paixão e entrega.

Beijinhos.