quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ausente


Olha para mim e me diz se eu não sou idêntica à sua decepção. Não é auto-piedade. Não querida, é que me vesti do que fizeram contigo e agora faço com o meu próximo. Justo eu que ouvi todas as suas mágoas, justo eu que quis tanto acolher-te agora causo a mesma dor. Causo e agora precisam de colo. Mas não do meu. Não posso ter um colo que sirva de consolo, sou o colo do desgosto. E me fiz tão desgosto quanto o que você um dia sentiu. Magoei alguém e magoei na mesma medida que te magoaram. Por favor, não há nada que me caiba fazer. Não há nada, nada. Vá lá por mim, então. Vá lá servir de consolo, minha amiga. Vá lá que você entende, vá lá que já fizeram isso contigo.

E quanto a você, meu atingido. Não posso dizer desculpa, nem pedir perdão. Não tenho como encarar-te. Fiz a maldade que não poderia com quem nada disso merecia. Você foi sincero demais para ter uma decepção desta como resposta. Mas vê pelo lado bom, o que restou a ti foi um lugar sem mim. O que sobrou disso tudo foi um lugar a salvo. Porque a mim restou um lugar sombrio, sem você e mais longe de mim. Restou o amargo. A ausência da culpa. Restou a ausência.

4 comentários:

lucas rolim disse...

Mais um texto forte e triste essa noite...
Espero que a esperança venha ao amanhecer e a ausencia seja preencida pela alegria
Bjus amiga

Filipe Garcia disse...

Bárbara,

passei pra dizer que li o texto umas três vezes e tive a sensação de que ainda não absorvi como deveria. Estou um pouco travado agora, não conseguiria tecer comentários e, se fizesse isso, acho que sairia um monte de abobrinha. Vou ler mais uma vez com calma hoje mais tarde e daí comento decentemente, ok?

Beijo

Bárbara M.P. disse...

Olá querida,

Apesar de dilacerantes e frias, reconheço que tuas palavras foram muito bem escritas. Estou aqui pensando no significado que devem ter para você -caso não sejam apenas passeios públicos pela estrada. Se acaso elas tiverem mesmo um sentido íntimo, desejo de coração que sejam bem pesadas e aproveitadas e que depois se transformem em pequeninas e nostálgicas borboletas voando em direção ao sol. Isso vai clareá-las um pouco mais.

Adoro passear por aqui. Tua casa é de um aconchêgo familiar, será porque somos xarás?? (risos.

Tenha um feriado de luzes e tranquilidade, moça.

Bárbara M.P.

Renato Ziggy disse...

Linda a veracidade em suas palavras! Mas o pedido de perdão sempre é possível, a partir do momento em que nos desprendemos da culpa para agirmos em decorrência do arrependimento. Pense nisso. Bjos!