domingo, 20 de abril de 2008

Suposta indiferença




Avisto-te ao longe. Olho pra cá, me pergunto se deixo esse silêncio persistir. Sabe que não existe nada mesmo nesse ar que respiramos. E já te disse isso. Mas no coração pulsa uma incerteza latente do todo que fora dito. Do todo que fora assumido. E de volta tenho a dúvida: qual é o problema, então? O problema não é você e nem eles. Nenhum deles. Nenhum de vocês. O problema insiste em morar comigo, meu amigo. Mora comigo. Mora aqui essa síndrome, esses não- resolvidos-sentimentos.

Então não falo. Não pergunto. Não cumprimento. Passo de largo, e olho pra cima, olho de lado, pra baixo, menos pra você. Pode ser pedante ao seu ver, mas saiba que é fruto de uma incerteza paciente que não foge daqui, uma angústia cruel de assumir te conhecer, de assumir conhecer o amor. De admitir minha identidade. Passo de largo. Não te vi. Será que você me viu?


Será que logo você que é tão cheio de si, tão resolvido, que mora tão longe dessas incertezas, desses não-resolvidos, será que você alguma vez já passou de largo? Será que você entende o que é esse passo que se mostra tão indiferente?

Você vê, você pega, você vive. Sabe o que pensa, você é realista. Você passa, cumprimenta e espera. Espera a resposta. Você espera. Mas não te conheci. Não te vi.

7 comentários:

Filipe Garcia disse...

"O problema insiste em morar comigo"

Achei muito real essa frase. Porque a maioria dos problemas habita dentro da gente. São resquícios de traumas, mágoas, tristezas, idelicadezas, coisas que vão acumulado e ficando por tempo indeterminado até virar um problema gigante e incontrolável.

"angústia cruel de assumir te conhecer, de assumir conhecer o amor"

Não conhecer o amor implica em problemas, realmente. Mas você pode propor-se a não passar mais de largo, a observar com mais calma. Afinal, você já sabe onde habita a razão do seu problema.

Gostei muito, Bárbara. Seu texto me fez pensar nessas coisas. Aliás, seus textos sempre têm esse poder terapêutico e filosófico sobre mim.

Beijos.

Ni ... disse...

Este mundo certezas incertas teima em morar comigo tbm... rs

Beijo moça...

Renato Ziggy disse...

Não sei, mas a impressão que passa é a dificuldade da pessoa que fala no texto de SE enfrentar, de SE ver, de SE notar para aí sim SE resolver. O tom é de afronta, mas não vejo atitudes de AUTO-afronta. Será que chegou a hora de arriscar? AMEI! Bjos!

Liz / Falando de tudo! disse...

"essa síndrome, esses não- resolvidos-sentimentos"
Gostei da sutileza da tua escrita...eu volto viu?
Um abraço!

Jaya Magalhães disse...

Bárbaraaa,

E se eu te contar que isso você narrou acontece direto comigo de uns tempos pra cá? Rs.

É tão estranha a sensação de não querer conhecer o amor. Ou de querer. Ou de conhecer mesmo e só não se deixar assumir. De desviar atenções. Será que tem medo no meio? Não sei o que será.

É boooom demais te leeeeer!
Adoro estar de volta ao teu canto.

Aos poucos coloco minha leitura em dias.

Cheiro.

P.S.: Obrigada pelo comentário no meu texto insano do "Chá". Rs.

F. G disse...

Olá

Seu texto foi indicado na categoria Melhor Texto para o prêmio Entre Vistas.

Boa Sorte!

http://entrevistasvirtuais.blogspot.com/

Alê Quites disse...

Certa vez ouvi que a indiferença é o pior dos castigos. Acredito!

Seu blog é encantador. Voltarei!

Ah! Claro q pode me linkar...Obrigada!