quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ansiedade


Ela, encostada na cama, no fim do mês, no fim da noite, sem cigarro. Precisava dormir. E por mais que tentasse se distrair com um livro qualquer, sua mente lhe perturbava, a ausência lhe esvaziava.
Ao fim da primeira linha do livro qualquer, que pouco importa, seu olhar dedilha todos os elementos do quarto até alcançar a cômoda. Procura mais uma vez e constata: não tem nenhum cigarro lá. Nem unzinho!

O tempo passa nessa agornia de linha sem sentido e cômoda vazia. Até que alguém bate à porta. Ela responde. Pede, por favor, um cigarro. E o recebe. Sim, ela o recebe!
Feliz, o coloca na cômoda. Respira fundo aliviada. Assenta-se de novo, sorri de lado mirando-o. Pega o livro e deslumbra-se com sua capa. Agora admira seu título. Retoma, então, na primeira página sedenta pela historia.

Depois de linhas tranquilas e absorvíveis, fecha o livro, apaga a luz e dorme em paz.
Não, não era vício, não ia fumar. Precisava só da certeza da presença.
Lembrei-me de você. Precisava só da certeza da presença.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vida de cinema


Os sonhos nos confudem
tal qual tela de cinema:
- Onde é o real?
De dentro da tela:
as poltronas, dos que assistem
e são assistidos.
O cinema nos assiste, meu caro,
somos todos ajudados.


Mas, e a mocinha?
Quer ela sair daqui?
Quer tocar o chão?
Deixar de voar e ver,
ver quem assiste sua TV?
Quer ela deixar a trilha sonora?
E voltar a vida em cores?
Será que quer ela encarar seus assistidos?
E ver se há mocinhos coloridos? Desafinados?
Será que quer ela uma vida real?
Quer descobrir se há por aqui um amor bonito?


Ah.. mocinha... olha para a vida!
Vê o seu desejo.
E se não gostar de viver...
Se não descobrir a música daqui,
pode voltar para seus sonhos,
pode voltar para as telas.
E tenha de volta sua trilha sonora,
guarde de novo seu afinado.
Mas vem dançar na chuva!
Se entregue ao viver....

sábado, 18 de outubro de 2008

Transeuntes terrestres


Tem dias que andando em meio a um ensurdecedor barulho de carros, pessoas, numa movimentação só, nosso ser se vê no ritmo do lado de fora. No ritmo da rotina da cidade. E andando em meio a um turbilhão de pensamentos que compõem um cenário de um terrível trânsito interno, como o de SP.
A gente respira fundo, pára e solta o ar como que expelindo todos esses pensamentos. Mas não resolve.
Daí alguns passos você atravessa a rua, mira o alvo e a direção em que se atirará. Mas que ingenuidade! Ter de volta seu destino não te livra do trânsito, não desse tipo de trânsito.
Então, se vê sacudindo os pensamentos de olhos fechados. Abre os olhos e nisso tudo passaram-se apenas segundos. Só te sobra dar uma risada de canto quando percebe a inocência de querer espantá-los com um movimento mais brusco da cabeça.
- Não! Não resolve! – sussurra pra si mesmo.
Ninguém na rua notou esse seu piscar de olhos e essa sua tentativa de esquiva. Afinal de contas os humanos são tão iguais que se parecem até no fato de não se enxergarem no outro. Ninguém nessa Terra imagina que o ser que respira e corre do mesmo lado que você na calçada, também chacoalha as idéias e tenta esquecer qualquer coisa que perturbe seu sonho, seu sono.