sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vida de cinema


Os sonhos nos confudem
tal qual tela de cinema:
- Onde é o real?
De dentro da tela:
as poltronas, dos que assistem
e são assistidos.
O cinema nos assiste, meu caro,
somos todos ajudados.


Mas, e a mocinha?
Quer ela sair daqui?
Quer tocar o chão?
Deixar de voar e ver,
ver quem assiste sua TV?
Quer ela deixar a trilha sonora?
E voltar a vida em cores?
Será que quer ela encarar seus assistidos?
E ver se há mocinhos coloridos? Desafinados?
Será que quer ela uma vida real?
Quer descobrir se há por aqui um amor bonito?


Ah.. mocinha... olha para a vida!
Vê o seu desejo.
E se não gostar de viver...
Se não descobrir a música daqui,
pode voltar para seus sonhos,
pode voltar para as telas.
E tenha de volta sua trilha sonora,
guarde de novo seu afinado.
Mas vem dançar na chuva!
Se entregue ao viver....

sábado, 18 de outubro de 2008

Transeuntes terrestres


Tem dias que andando em meio a um ensurdecedor barulho de carros, pessoas, numa movimentação só, nosso ser se vê no ritmo do lado de fora. No ritmo da rotina da cidade. E andando em meio a um turbilhão de pensamentos que compõem um cenário de um terrível trânsito interno, como o de SP.
A gente respira fundo, pára e solta o ar como que expelindo todos esses pensamentos. Mas não resolve.
Daí alguns passos você atravessa a rua, mira o alvo e a direção em que se atirará. Mas que ingenuidade! Ter de volta seu destino não te livra do trânsito, não desse tipo de trânsito.
Então, se vê sacudindo os pensamentos de olhos fechados. Abre os olhos e nisso tudo passaram-se apenas segundos. Só te sobra dar uma risada de canto quando percebe a inocência de querer espantá-los com um movimento mais brusco da cabeça.
- Não! Não resolve! – sussurra pra si mesmo.
Ninguém na rua notou esse seu piscar de olhos e essa sua tentativa de esquiva. Afinal de contas os humanos são tão iguais que se parecem até no fato de não se enxergarem no outro. Ninguém nessa Terra imagina que o ser que respira e corre do mesmo lado que você na calçada, também chacoalha as idéias e tenta esquecer qualquer coisa que perturbe seu sonho, seu sono.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Saudade

Saiu sorrindo e contando os passos da roda de amigos até onde se ia. Saiu sabendo de seus passos e se acalmando para o que viria. Entrou, então, no banheiro, olhou-se no espelho de relance. Podia ainda ouvir o zunido de tudo o que acontecia lá fora. Mas agora podia estar ali, tão longe de qualquer coisa. Fechou a trinca e assentou-se afim de refugiar-se de toda aquela música, de todas as sorrindentes. Lá poderia admitir o que tivesse em mente. Foi lá encontrar quem ali não estava. Foi estar só.
E estar só significava deixar os pensamentos rotineiros tomarem conta. De repente já estava a imaginar além desse refúgio um refugiado amigo. E já podia sussurrar qualquer coisa que quisesse sobre o que tava acontecendo lá fora. Podia até dizer que era muito bom poder encontrá-lo ali. E rir de qualquer piada que fizeram. Imaginou então como seria seu olhar no momento de admitir que estava querendo ficar ali mais tempo do que poderia, afinal haviam outras pessoas esperando para usarem o sanitário para outro fim que não conversar com alguém que ali não está. Fez alguma jura, pediu um abraço e se despediu. Realmente precisava ir.

Engraçado isso: Deixar a roda de amigos para encontrar alguém que não está. Engraçado essa mania de trazer para o físico nossos problemas internos. Quem disse que paredes garantem um refúgio? Engraçado pensar que estamos sós, quem disse que ainda que sozinho não se está com alguém? Quem é inocente de achar que a ausência não é também uma presença desesperadora no ser do saudosista?