Saiu sorrindo e contando os passos da roda de amigos até onde se ia. Saiu sabendo de seus passos e se acalmando para o que viria. Entrou, então, no banheiro, olhou-se no espelho de relance. Podia ainda ouvir o zunido de tudo o que acontecia lá fora. Mas agora podia estar ali, tão longe de qualquer coisa. Fechou a trinca e assentou-se afim de refugiar-se de toda aquela música, de todas as sorrindentes. Lá poderia admitir o que tivesse em mente. Foi lá encontrar quem ali não estava. Foi estar só.
E estar só significava deixar os pensamentos rotineiros tomarem conta. De repente já estava a imaginar além desse refúgio um refugiado amigo. E já podia sussurrar qualquer coisa que quisesse sobre o que tava acontecendo lá fora. Podia até dizer que era muito bom poder encontrá-lo ali. E rir de qualquer piada que fizeram. Imaginou então como seria seu olhar no momento de admitir que estava querendo ficar ali mais tempo do que poderia, afinal haviam outras pessoas esperando para usarem o sanitário para outro fim que não conversar com alguém que ali não está. Fez alguma jura, pediu um abraço e se despediu. Realmente precisava ir.
Engraçado isso: Deixar a roda de amigos para encontrar alguém que não está. Engraçado essa mania de trazer para o físico nossos problemas internos. Quem disse que paredes garantem um refúgio? Engraçado pensar que estamos sós, quem disse que ainda que sozinho não se está com alguém? Quem é inocente de achar que a ausência não é também uma presença desesperadora no ser do saudosista?