No peito, a dor da obrigação de viver se instalou naquele que fora tão vivaz um dia. Suas mãos já não eram tão macias, não mais aquele aspecto hidratado e vivo, antes exibia sua falta de cuidado e amor próprio, exibia sua necessidade de cuidado. Seu olhar perdera o antigo brilho de menina, o brilho de estrelas. Sua pele expurgava sua culpa, escancarava a dor latente, a dor paciente que persistia em morar no seu endereço. As unhas eram fracas e curtas, ali estavam expostas suas lentes. Lentes que lhe permitiam enxergar a vida, e a enxergava com demasiada ansiedade. Roia-as compulsivamente, mordia as pontas dos dedos como num ato insano, uma vontade incontrolável de diminuir a angústia do tempo, a angústia da hora, a angústia de ter esperado, a angústia imensa de ter errado. Seus pés andavam menos, queriam menos, traçavam menos caminhos, estavam cansados. Estavam descuidados. Perderam a trilha da promessa de prosseguir, perderam-se no caminho, esqueceram-se da simbologia das sandálias, das que remetiam a sua missão, a missão de caminhar. Sua boca não se saciava facilmente, precisava de muita água, precisava de alimento, e, em todo tempo. Tinha necessidade de carinho, de atenção, de cuidado. Seu cabelo estava ralo, suas bochechas caídas e ombros como que se arrastando, apontando para baixo. Seu corpo clamava por inteiro, seu corpo exalava por inteiro, sua complexidade de ser humano cantava em uníssono a melodia mais triste do seu coração, a melodia do seu desespero. Desespero conformado e calmo, coração triste. Um desespero latente com o qual se acostumara a conviver.
Mas, ainda assim, havia amor. Amavam tanto essa mulher triste. Amavam-na e pronto. Queriam apenas a garantia de tê-la por perto, de vê-la sorrir. Amavam-na com o amor mais puro. Amavam-na como uma flor, e a tratavam assim, com delicadeza, com leveza, como menina. Ainda viam aquela menina que brincava com as borboletas e os passarinhos, a que trazia mel e gostava de cuidar das plantas. Lembravam com esperança da menina. Lembravam da mulher que cuidava da sua casa com carinho, que tinha gosto pela vida. Acreditavam que podia ter de volta o brilho dos olhos e da pele, a luz dos cabelos, o riso solto e genuíno. Ter de volta o antigo corpo de menina, o corpo que exalava vida.
Ela também tinha boas lembranças de si. E sentia todo esse clima de amor, sentia toda a áurea de paz que a cercavam. Percebia a sensibilidade e o cuidado dos que a amavam.
Mas o barulho vinha de dentro, e era ensurdecedor. O amor que inexistia era o seu próprio.
Precisava, urgentemente, deixar vir a cura.... deixar o amor vir para dentro, vir para si.
Mas enquanto não se abrisse para isto.... o barulho continuava, o corpo prosseguia gritando. E seu corpo de menina ficava cada vez mais distante.
Mas, ainda assim, havia amor. Amavam tanto essa mulher triste. Amavam-na e pronto. Queriam apenas a garantia de tê-la por perto, de vê-la sorrir. Amavam-na com o amor mais puro. Amavam-na como uma flor, e a tratavam assim, com delicadeza, com leveza, como menina. Ainda viam aquela menina que brincava com as borboletas e os passarinhos, a que trazia mel e gostava de cuidar das plantas. Lembravam com esperança da menina. Lembravam da mulher que cuidava da sua casa com carinho, que tinha gosto pela vida. Acreditavam que podia ter de volta o brilho dos olhos e da pele, a luz dos cabelos, o riso solto e genuíno. Ter de volta o antigo corpo de menina, o corpo que exalava vida.
Ela também tinha boas lembranças de si. E sentia todo esse clima de amor, sentia toda a áurea de paz que a cercavam. Percebia a sensibilidade e o cuidado dos que a amavam.
Mas o barulho vinha de dentro, e era ensurdecedor. O amor que inexistia era o seu próprio.
Precisava, urgentemente, deixar vir a cura.... deixar o amor vir para dentro, vir para si.
Mas enquanto não se abrisse para isto.... o barulho continuava, o corpo prosseguia gritando. E seu corpo de menina ficava cada vez mais distante.
10 comentários:
Bárbara,
Vamos por partes? Rs.
O comentário de cima eu apaguei porque meus acentos viraram quadradinhos. Ficou super esquisito, coisas do blogspot. Daí depois que exclui, não consegui comentar outra vez. Rs. Se esse sair com quadradinhos, vou deixar. Acho que dá pra entender...
Bom, eu quero agradecer beeeem muitão teus comentários lá no blog. Adoro saber que você aparece lá. Tuas palavras sempre perfumadas com simpatia. Obrigadão, viu? Eu tô sem acesso aos blogs ultimamente, meu computador tá pro conserto, um sufoco danado! Mas sempre que dava tempo, vinha passando aqui pra te espiar, já que ando impedida de comentar. Rs. Me aguarde que eu volto aqui pra recuperar tudo que andei perdendo.
Sobre o texto, eu só sei dizer que adorei. Peguei a minha “menina que passa”, e encontrei ela se embolando com a menina do teu texto. Parecidíssimas elas, eu diria. Essa história de corpo de menina, de mudanças, transições, do tempo fazendo seus efeitos sem perguntar por onde... Isso tudo tenta pegar da gente a história da meninice. Mas sabe o que eu acho? Acho que ela tem alma de menina, sim. E se exala vida? SÓ exala vida. O amor próprio só deve ter se escondido momentaneamente. Pela suavidade da lembrança dos que a amam: “ainda viam aquela menina que brincava com as borboletas e os passarinhos, a que trazia mel e gostava de cuidar das plantas”... eu percebo doçura. Percebo que se ela se permite ser enxergada assim, é porque de fato os resquícios se fazem presente. E percebo chuvas em pó de açucares, fazendo um barulhinho bom, deixando o amor aparecer, e deixando-a ser menina.
Foi bonito te ler assim. Bonito te ler outra vez.
Uns beijos.
P.S.: Eu te linkei envergonhadamente. Acredita que pensava que já tivesse você entre os meus? Eu gostei tanto daqui na primeira vez que vim, não sei como deixei passar.
Fala pra mim: você e a Jaya combinaram?
Amei seu textos, Bárbara. Singelo e leve, foi assim que ele me soou.
Beijos carinhosíssimos.
Bárbara,
Eu vi tanta coisa nesse texto seu. Antes de tudo, fiquei boquiaberto como quem lê Drummond ou Vinícius. E suas palavras foram me flechando, me convidando, fazendo-se notórias e reais. Não é todo texto que faz isso comigo - a ponto de eu perder a noção de fantasia/realidade.
Não tenho palavras que descrevam o que eu achei realmente. Tudo muito belo.
Beijos
Lindo texto, Bárbara. A princípio, parece triste. E o é, de certa forma. Digo isso porque eu me senti leve com suas palavras.
Parabéns!
Bjo grande,
Daniel
Qual a distancia entre o ser e o estar? Porque o que se vê nem sempre é o que está dentro e, muitas vezes, o que está dentro é mais dolorido do que a aparencia? Seria bom ter uma visão mais completa e profunda de nós mesmos, a ponto de reconhecer, mesmo com os erros e fracassos latentes, que vale a pena viver e ser o que se é... Mas de novo, o que sou? Sou um ser mutante, cheio de altos e baixos, mas que caminho para o alvo... para minha esperança... meu porto seguro... onde o meu ser é completo. Você sabe de Quem estou falando, né?!
Bjus amiga... te amo muito viu?!
Babi,
O texto é muito lindo! A forma como você descreve a situação, o que se passa com a menina fazem com que o leitor adentre o universo da personagem, e isso trás um quê de aproximação, de verossimilhança, entende.
Por outro lado, tem alguns momentos que sinto um desvio de percurso, não sei bem explicar. Não sei, mas me deu a sensação de que havia partes no texto que poderiam ter sido mais trabalhadas, enxugadas.
Gostaria que soubesse que é sempre um prazer vir aqui. Estás cada dia melhor e toca o coração da gente. Continue lapidando e investindo, porque você, sem dúvidas, tem o dom da escrita. Bjos,
Zy
não vai postar mais nada não, ou?!!!
Tô querendo ler algo seu
Babi! ficou lindo! apesar de triste, mas ficou muito bom! poxa, trouxe tão bem esses sentimentos, não "forçou a barra", deu pra sentir junto,foi concreto,foi real! Muito bom isso! tá de Parabéns!
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