Olha para mim e me diz se eu não sou idêntica à sua decepção. Não é auto-piedade. Não querida, é que me vesti do que fizeram contigo e agora faço com o meu próximo. Justo eu que ouvi todas as suas mágoas, justo eu que quis tanto acolher-te agora causo a mesma dor. Causo e agora precisam de colo. Mas não do meu. Não posso ter um colo que sirva de consolo, sou o colo do desgosto. E me fiz tão desgosto quanto o que você um dia sentiu. Magoei alguém e magoei na mesma medida que te magoaram. Por favor, não há nada que me caiba fazer. Não há nada, nada. Vá lá por mim, então. Vá lá servir de consolo, minha amiga. Vá lá que você entende, vá lá que já fizeram isso contigo.
E quanto a você, meu atingido. Não posso dizer desculpa, nem pedir perdão. Não tenho como encarar-te. Fiz a maldade que não poderia com quem nada disso merecia. Você foi sincero demais para ter uma decepção desta como resposta. Mas vê pelo lado bom, o que restou a ti foi um lugar sem mim. O que sobrou disso tudo foi um lugar a salvo. Porque a mim restou um lugar sombrio, sem você e mais longe de mim. Restou o amargo. A ausência da culpa. Restou a ausência.