domingo, 20 de abril de 2008

Suposta indiferença




Avisto-te ao longe. Olho pra cá, me pergunto se deixo esse silêncio persistir. Sabe que não existe nada mesmo nesse ar que respiramos. E já te disse isso. Mas no coração pulsa uma incerteza latente do todo que fora dito. Do todo que fora assumido. E de volta tenho a dúvida: qual é o problema, então? O problema não é você e nem eles. Nenhum deles. Nenhum de vocês. O problema insiste em morar comigo, meu amigo. Mora comigo. Mora aqui essa síndrome, esses não- resolvidos-sentimentos.

Então não falo. Não pergunto. Não cumprimento. Passo de largo, e olho pra cima, olho de lado, pra baixo, menos pra você. Pode ser pedante ao seu ver, mas saiba que é fruto de uma incerteza paciente que não foge daqui, uma angústia cruel de assumir te conhecer, de assumir conhecer o amor. De admitir minha identidade. Passo de largo. Não te vi. Será que você me viu?


Será que logo você que é tão cheio de si, tão resolvido, que mora tão longe dessas incertezas, desses não-resolvidos, será que você alguma vez já passou de largo? Será que você entende o que é esse passo que se mostra tão indiferente?

Você vê, você pega, você vive. Sabe o que pensa, você é realista. Você passa, cumprimenta e espera. Espera a resposta. Você espera. Mas não te conheci. Não te vi.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Campanha contra o analfabetismo!



Mais que não decifrar códigos de escrita, ser analfabeta é viver à margem da sociedade. À margem de uma rotina de vida centrada na escrita. E nós, alfabetizados, nem percebemos, nem conseguimos imaginar mais como é viver fora da esrita, já que estamos tão acostumados a este estilo de vida.


Este post é em defesa de uma educação democrática de qualidade para que o saber seja direito de todos, que a cidadania seja plenamente exercida, que os olhares se voltem para os marginalizados, que os marginalizados tenham acesso à consciência de si, de seu papel social e que a luta nos leve a algum lugar. A um melhor que este!
O que fazer contra o analfabetismo?
1) Formação do educador - Acredito que cabe aqui citar Paulo Freire que nos deixou uma herança riquíssima e reconhecida internacionalmente. Os educadores devem investir na sua formação, o governo deve investir nessa formação! Paulo Freire (principalmente na Educação de Adultos) tem um papel importantíssimo! Que seja incentivado a leitura de seus textos, que seja real essa formação crítica e prática, rica teoricamente e capaz de relacionar com a rotina do trabalho.
2) O valor do Educador - O profissional da educação carrega consigo uma responsabilidade social muito grande e a sociedade civil tem o DEVER de reconhcer isso. É papel das autoridades e dos cidadãos valorizar o educador. Que seja reconhecido seu valor no aumento dos salários, no tratamento como um ser merecedor não só de respeito mas de admiração. Que seja reconhecido o valor do seu trabalho!
3) Que o educador tenha consciência de seu papel social, do que implica sua ação. E que sua ação não seja uma prática pela prática, mas que se baseie em uma reflexão e entendimento crítico, um entendimento que gere uma nova prática.
4) Que o governo invista na Educação Básica.
Que a luta contra o analfabetisnmo seja percebida na sua completude. Na sua completude já que não se restringe a aprender a ler e a escrever, pois não pode-se desconsiderar o processo de tomada de consciência! A luta não pode estar vencida se todos tiverem acesso à 1ª série do ensino fundamental. Se isso acontecer, será um avanço, mas não o fim da luta! Pois a luta é por essa consciência, é por uma Educação completa, uma Educação democrática de qualidade!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Silêncio...


As palavras me são problema quando pronunciadas. Saem como que sem rumo e tantas vezes tomam um caminho incerto, indevido. Não podem ser apagadas, já se foram e nunca mais retornarão. Retomam sua vida própria, retomam sua altivez e são interpretadas por aí de alguma maneira, nem sempre atingindo o objetivo inicial: o meu objetivo. Mas quem é o dono delas afinal? São tão loucas essas palavras, são tão próprias que, ao pronunciadas, se tornam auto-suficientes e fazem o seu próprio percurso. Espanto-me com elas. Amedronta-me tamanha vivacidade.

Sentimentos meus tão íntimos são tentados a se exporem, mas essas maldosas palavras que estremecem qualquer ser pensante, os sufoca. Sentimentos esses que continuam ali, vivos, se enrijecendo, se petrificando. Petrificam-se por não se exporem, por não se posicionarem de uma vez por todas, por não refazerem-se através da oralidade. Antes, fazem mal a si próprios numa ilusão insana de engrandecer o poder dessas palavras, de exaltá-las na sua crueldade. Quanta auto-piedade!

Cruéis palavras que são tão minhas quanto esses auto-piedosos que parecem inexprimíveis sentimentos.

Luta interna. Silêncio.