sábado, 20 de setembro de 2008

Conversa



Acho que a gente pode falar sinceramente agora. Não tem mais ninguém por perto. Nem mais ninguém querendo saber o que que vai dar toda essa conversa.
- Vamo sentar ali?
(Suspiro) É bem difcil começar. - Até porque foi estranho demais como tudo aconteceu. Não sei como explicar e nem dizer o que eu realmente sinto. Mas o que importa agora também? Você já está ai esperando, balançando os pés e batendo qualquer coisa na mesa mostrando sua impaciência. Meus dilemas não te pertencem. E nem sei se já pertenceram.
- Pede para o garçom qualquer coisa. Pra preencher o vazio da mesa.
Da mesa, da conversa, do olhar.
Pede, mas volta!
Volta que talvez encher a mesa nos encha de qualquer coisa que se transforme em fala e que faça quem sabe a gente se entender.
To aqui esperando, acompanhando seu caminho de ida. E continuo dilemando minhas talvez possíveis falas diante dos problemas que criamos juntos.
Não sei por onde começo. Não sei se tem começo, nem sei se quero começar.
É uma agonia sem fim esse monólogo interno de que se fala tanto quando o problema é nao ter nada pra falar. Não sai nada.
E você volta com algo na mão. Nem conheço o que é. Nem reparei. Vi você por completo. E me prendi nos seus olhos. Por segundos passou-se aquele filme na minha mente.Tudo!
Você se sentou e, empurrando a cadeira, fez um barulho, que sinalizou minha volta brusca pra crua realidade do nosso vazio. Lembranças já não salvam mais. E talvez a gente se convença disso hoje.
Você enche o copo. E continua a expressar sua falta de paciência. Mas faz o que pra mudar? Nada!Não fala e nem se expressa. Só sabe me inculcar, porque nunca adivinho seus pensamentos. Já tentei brincar disso com você. Mas você é uma icógnita. Não dá jogo.
Você pergunta sobre mim. Eu volto a pergunta. Você diz que não tem nada.
A gente se distrae com os do lado. A fim de sair dali.
E, no fim, acho que a gente vai beber tudo, dizer quaisquer desculpinhas, ir embora pretendendo um sorriso. Você para o seu caminho, eu pro meu. Eu, inculcada, nervosa, dilemando muitos. E você..
Você eu nao sei como vai embora. Eu nunca soube ganhar esse jogo.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Nosso espelho

Bombardeios, desses que aparecem na TV?
Acontecem entre nós.
Bombardeamos conhecidos, próximos,
roubamo-lhes tesouros
e deixamos cicatrizes, feridas.
Marcas eternas em suas vidas.

O preconceito que nos é tão repudioso?
Está aqui. Nessas simbólicas atitudes.
Nas concretas vivências.

Esta desigualdade tão odiosa,
É a nossa realidade.
É o caminho que tomamos.

O desprezo pelo interesse do povo,
começa no desprezo pelo interesse do outro.
A corrupção fortemente denunciada,
agride além de trabalhadores.

Olhai e vede:
Há guernica em nós!
O amor NOS falta!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Amor-próprio




O amor inculca,
E chega que incomoda.
Alguém pergunta:
Tem forma?
Será que me in(forma)?
Onde é que está?

E eu atrás de algo,
Algo que se assemelhe a este desejado,
Mas vou nos lugares mais inusitados.
E, confusa no meu caminho,
Olho no espelho e sei:
Não estou sozinha!

Continuo à procura,
Ainda quero encontrá-lo.
Descubro que o amor por mim mesma,
Está sim em um lugar inusitado
E, agora, mais inusitado,
que de tão perto
Jamais fora esperado.

Páro, olho pra mim e descubro
que aqui, bem dentro existe,
muito além de entulhos,
marcas desse amor
escondido.

E regando a terra em prantos,
carrego agora comigo
o meu mais que tesouro,
um novo amigo:
Esse amor,
que antes estava perdido.