segunda-feira, 14 de abril de 2008

Silêncio...


As palavras me são problema quando pronunciadas. Saem como que sem rumo e tantas vezes tomam um caminho incerto, indevido. Não podem ser apagadas, já se foram e nunca mais retornarão. Retomam sua vida própria, retomam sua altivez e são interpretadas por aí de alguma maneira, nem sempre atingindo o objetivo inicial: o meu objetivo. Mas quem é o dono delas afinal? São tão loucas essas palavras, são tão próprias que, ao pronunciadas, se tornam auto-suficientes e fazem o seu próprio percurso. Espanto-me com elas. Amedronta-me tamanha vivacidade.

Sentimentos meus tão íntimos são tentados a se exporem, mas essas maldosas palavras que estremecem qualquer ser pensante, os sufoca. Sentimentos esses que continuam ali, vivos, se enrijecendo, se petrificando. Petrificam-se por não se exporem, por não se posicionarem de uma vez por todas, por não refazerem-se através da oralidade. Antes, fazem mal a si próprios numa ilusão insana de engrandecer o poder dessas palavras, de exaltá-las na sua crueldade. Quanta auto-piedade!

Cruéis palavras que são tão minhas quanto esses auto-piedosos que parecem inexprimíveis sentimentos.

Luta interna. Silêncio.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Reencontro

Acho que aqui é o melhor lugar. Acho que aqui é onde a gente pode chegar pertinho e olhar nos olhos um do outro novamente. E veja. Olhe bem. Há tanta tristeza no meu canto do quarto, no meu olhar baixo, que não posso conter essa enxurrada de lágrimas salgadas que chega até meus lábios, amargando a alma. A luz no meu canto está fraca. Bem fraquinha. Mas não existe aquele tom romântico rústico, existe a velha tristeza fria que cala, que arranca as palavras. Agora você vê?
Admito que fracassei. Fracassei ao tentar decifrar esse meu sentimento a você. E não poderia persistir na tentativa, não poderia. Você veio quando soou minhas badaladas, quando a areia branquinha daquela minha ampulheta deslizou-se por completo e anunciou o momento. O momento da minha desistência, o momento que dei conta do meu cansaço. E você percebeu essa areia, ouviu as badaladas. Você atendeu... você está aqui!
Aqui, ao olhar-te, tenho de volta o meu abrigo, esse teu sorriso de menino que é só meu. Já te disse isso muito, mas assim como não canso de repetir, você nunca se cansa de ouvir, o quanto teu sorriso me chama atenção quando nos reencontramos. O quanto teu sorriso me lembra toda a história, as boas lembranças, me lembra você por completo. Lembra desses nossos encontros aqui e me faz retornar a minha casa, a minha essência.
E agora.... ah.. agora posso transbordar a luz que faltava ali no canto só de fitar teus olhos e sentir que fitas o meu olhar tão verdadeiramente, tão profundo. Essa troca de olhares parece, por um instante, ser suficiente já que há o encontro de nossas almas. Parece então, traduzir tudo nosso, porque sabemos nos comunicar com os olhos e nos entendemos tão bem. Mas sabe? Pra mim o nosso encontro não terminou aqui. Não terminou nesse olhar. Ainda quero saber o que há além do teu sorriso, quero enxergar e tocar no teu sentimento, pois não posso continuar tão longe do que é você. Quero me aproximar. Quero me recostar. Quero poder te encontrar sempre por aqui. Quero só poder ver o que é que há agora em você. Desejo saber do teu canto do quarto. Quanta luz há ai? Ainda dá pra ver da janela? E contemplar esse céu chuvoso nosso? Vamos? Abre sua porta e me deixa ver, me deixa tocar, me deixa decifrar.....

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Junção única de vida


Que diferença fará?
Se morrer ou prosseguir a respirar?
Se inchar ou desinchar?
Subir ou não?
Querer então,
Ser ou não!


Se os ventos soprarem
e arduamente se esforçarem
e expressar, e falar, e falar...
De nada vai adiantar!


Não sei o medo!

Não sei o medo, nem o amor, nem a alegria....
Não sei o visível..

Que diria desse invisível sentimento?

É a própria vida...
Juntam-se, então, meus desconhecidos,
Meus não-limitados em palavras,
Meus experimentados em um pulsar,
Juntam-se, e o são!São vida!
Já não sei a própria vida!

Antes a junção - essa vida aqui - fosse de outro
Antes existissem duas delas...
Ah.. mas é tão única, é passageira!
É tão minha
É só MINHA!